Recuperação Judicial

Guia completo para credores: Como proteger seus direitos frente à recuperação judicial no agronegócio

8/5/2025

O que você vai conferir aqui:

A Recuperação Judicial (RJ) no agronegócio brasileiro tem se tornado uma ameaça crescente para credores, incluindo bancos, cooperativas, fornecedores e investidores. Em 2025, o setor enfrenta um aumento alarmante de pedidos de RJ, impulsionado por crises climáticas, alta de juros, oscilações de mercado e má gestão financeira. Esses fatores criam um cenário de insegurança jurídica e financeira, com credores enfrentando prejuízos devido a planos de pagamento abusivos e decisões judiciais controversas. Este guia completo, voltado para credores do agronegócio, apresenta alertas, estratégias e práticas para proteger seus direitos, garantindo a segurança de suas operações no setor.

Por que a recuperação judicial no agro ameaça credores?

A RJ, regulamentada pela Lei nº 11.101/2005, permite que empresas e produtores em crise financeira reestruturem dívidas, suspendam execuções e negociem planos de pagamento. No agronegócio, porém, seu uso tem gerado desafios significativos para credores, impactando suas operações de diversas formas:

O aumento de 138% nos pedidos de RJ em 2024, conforme relatado por fontes do setor, reflete uma crise agravada por:

5 Alertas e estratégias para proteger seus direitos como credor

  1. Garanta a validade e proteção de suas garantias contratuais
    • Garantias como alienação fiduciária e Cédulas de Produto Rural (CPRs) com liquidação física são extraconcursais, conforme o artigo 49, §3º da Lei nº 11.101/2005 e o artigo 11 da Lei nº 8.929/1994. Isso significa que não deveriam ser afetadas pela RJ. Contudo, algumas decisões judiciais têm considerado grãos “essenciais”, impedindo sua execução. Para proteger seus direitos:
      • Formalize garantias rigorosamente: Registre CPRs e alienações fiduciárias em cartório, com cláusulas claras de liquidação física, adiantamento de preço ou troca por insumos (barter).
      • Monitore estoques garantidos: Utilize ferramentas de rastreamento para acompanhar grãos dados em garantia, evitando vendas indevidas durante a RJ.
      • Recorra a decisões judiciais: Caso o juiz classifique grãos como “bens de capital” ou “essenciais”, considere recorrer com base na jurisprudência do STJ, que esclarece a extraconcursalidade dessas garantias.
  2. Participe ativamente do processo de recuperação judicial
    • A participação proativa na RJ é crucial para minimizar prejuízos. Credores que se envolvem ativamente têm mais chances de proteger seus interesses:
      • Contrate advogados especializados: Profissionais com experiência em direito do agronegócio podem representar seus interesses na assembleia de credores e contestar planos abusivos.
      • Analise o plano de recuperação com rigor: Verifique se o plano é viável, respeita prazos realistas e prioriza créditos extraconcursais. Deságios excessivos ou carências longas devem ser rejeitados.
      • Negocie com estratégia: Proponha alternativas que equilibrem a recuperação do devedor com a proteção do seu crédito, como prazos menores ou garantias adicionais.
  3. Monitore a saúde financeira dos devedores antes de conceder crédito
    • A prevenção é a melhor estratégia para evitar prejuízos. Antes de liberar recursos:
      • Avalie o risco do devedor: Analise o histórico financeiro, fluxo de caixa, nível de alavancagem e capacidade de pagamento. Ferramentas de análise de crédito como o AgRisk podem ajudar.
      • Exija transparência: Solicite projeções de safra, relatórios financeiros detalhados e garantias sólidas antes de aprovar financiamentos.
      • Diversifique sua carteira: Reduza a exposição a setores de alto risco, como soja (34% das RJs), pecuária (20%) ou cana-de-açúcar (15%), para mitigar perdas.
  4. Prepare-se para litígios e acompanhe a jurisprudência
    • Decisões judiciais variáveis, especialmente em primeira instância, podem impactar seus direitos. Esteja preparado para agir:
      • Apresente recursos em instâncias superiores: O STJ tem reforçado que CPRs com liquidação física e alienações fiduciárias são extraconcursais. Utilize essa jurisprudência para recorrer de decisões que não reconheçam essas garantias.
      • Responda prontamente a irregularidades: Caso o devedor venda grãos garantidos ou descumpra contratos, solicite medidas judiciais, como busca e apreensão, para proteger seus interesses.
      • Mantenha-se informado: Acompanhe as decisões do STJ e tribunais regionais para embasar suas estratégias e se antecipar a tendências jurídicas.
  5. Incentive alternativas à recuperação judicial
    • A RJ é um processo caro (custos entre R$ 2 e R$ 3 milhões) e demorado, que nem sempre beneficia o devedor ou o credor. Incentive soluções extrajudiciais:
      • Ofereça renegociações proativas: Proponha prorrogações, redução de juros ou refinanciamentos para devedores com planos viáveis, evitando os custos da RJ.
      • Considere a mediação: A mediação é mais rápida, menos custosa e preserva a relação comercial, beneficiando ambas as partes.
      • Exija garantias adicionais: Em renegociações, solicite novas garantias, como imóveis ou outros ativos, para reforçar a segurança do crédito.

Impactos da RJ para credores e o futuro do agronegócio

A RJ mal conduzida gera consequências graves para credores e para o agronegócio brasileiro:

Por outro lado, credores que implementam estratégias proativas consolidam sua segurança, protegem seus interesses e apoiam um agronegócio mais equilibrado e confiável.

Como os credores podem se proteger no longo prazo?

Além das estratégias imediatas, credores devem adotar uma abordagem de longo prazo:

Conclusão: Atue com estratégia para proteger seus interesses

A Recuperação Judicial no agronegócio representa um desafio em crescimento, mas credores podem reduzir riscos com estratégias bem planejadas. Proteger garantias, participar ativamente dos processos de RJ, monitorar a saúde financeira dos devedores, estar preparado para questões jurídicas e incentivar soluções extrajudiciais são passos fundamentais para assegurar a estabilidade financeira. O agronegócio brasileiro depende de credores confiantes e bem-posicionados para manter seu papel como pilar da economia, e sua atuação estratégica é essencial para um setor mais equilibrado e sustentável.

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